Fui convocado a ir para Belém do Pará, com a missão de receber os doadores do Greenpeace no navio Esperanza que acabou de voltar de uma expedição na região dos Corais da Amazônia.Fui cheio de expectativas, pra mim era tudo novo, sou novo no time do Greenpeace, e finalmente viveria minha primeira experiência próximo a algo tangível, diferente do dia a dia do escritório.

Na sexta-feira, véspera da visita ao Esperanza, fizemos nossa primeiro tour com treinamento para entender como seria a atividade. O navio, cheio de imponência, causava um impacto a primeira vista e a sensação de ser impactado seguia a cada descoberta, com tudo, não tinha como não imaginar a alegria e a agonia de ficar meses a bordo.

Sábado, dia 19 de maio, às 8h.  Cheguei no Esperanza, a fila já estava formada antes mesmo da visita começar. Voluntários corriam de um lado para o outro. A equipe organizando todos os detalhes, o gerador para de funcionar e os computadores de cadastro é desligado. E assim segue… Com o povo ansioso e feliz de ver o navio Esperanza por ali.

Logo se escuta um grito de guerra que dizia: “Eu seguro sua mão na minha, para que juntos possamos fazer aquilo que eu não posso fazer sozinho” repetido três vezes, com um grande coro, foi de arrepiar. Era a equipe do Diálogo Direto, eles que são desafiados a conscientizar as pessoas sobre a importância de doar para os projetos do Greenpeace. A fila olhava e o grito de guerra e se contagiava.

O navio estava aberto, os grupos seguiram conhecendo a história dos corais e fazendo a visita nesta “ferramenta” de 72 metros, um grande instrumento utilizado para defender as belezas naturais em todo o mundo.

Não perdi tempo, eu queria falar com as pessoas, entender as histórias. Então era só me aproximar de alguém, que eu já começava a bater papo.

As histórias seguiam com relatos incríveis. O “João” veio com os dois filhos e decidiu tornar o “Guilherme”, o filho mais novo, um doador, para amenizar a culpa que ele sentia por ser um funcionário de uma terceirizada contratada pela petroleira Total para contribuir com o projeto de exploração da região.

A dona Maria me mostrou a carteirinha de doadora, ela contribui desde 2000 e chamou para tomar um café na casa dela, do outro lado do rio e garantiu que eu não ia me arrepender. Deu água na boca, mas tive que deixar para uma próxima… #chatiado

Conheci também o Pedro, que se apresentou como traficante, um traficante de conhecimento, que muitos chamam de professor. Apaixonado pela natureza, usa de meios diferentes para transmitir sua paixão para os adolescentes.

Para o primeiro dia, eu havia convidado uma doadora para fazer um tour especial com a Helena, bióloga  brasileira que acompanhou a expedição. Que papo gostoso!!! Fomos a cabine principal, ela perguntou de tudo, a Helena respondeu diversas curiosidades, gravamos um vídeo que eu já estou ansioso pra ver e este encontro finalizou com aquele abraço apertado, como uma mãe orgulhosa e feliz em encontrar a filha bióloga que volta de uma grande vitória (Não vencemos ainda, mas estamos cada vez mais perto).

O sábado terminou, o corpo estava cansado, mas o coração já estava ansioso pelas surpresas que o domingo reservava.

Bom dia, domingo, 20 de maio de 2018. Estou aqui, vendo o sol brilhar nas águas barrentas do Rio que não sei o nome ainda. A fila está o dobro de ontem, o professor intitulado traficante passa para trazer um pão de queijo, ele já entrega pedindo desculpas, dizendo que está murcho, mas na real, foi um dos melhores que já provei.

Passei na tenda das crianças, lá eu encontrei um garotinho, ele desenhou o navio do Esperanza e também fez um peixe todo colorido que ele chamou de dourado. Na hora que passei por lá, tinha uma menininha, com o pai do lado, eles só falavam inglês, mas ela estava montando uma tartaruga com massinha de modelar, e fez um coração pra pôr do lado. Aiai.. respiro fundo e penso: “há esperança, obrigado, Esperanza”

Falei com muita gente! Pessoas cultas e bem instruídas, pessoas simples e bem decididas. Lembro do papo com um agricultor, ele ressaltava que deveríamos estar em Brasília, onde as leis estão sendo afrouxadas. Não titubeei, e logo o informei que estamos lá, mostrei matérias e falei das dificuldades então ele tomou a decisão de ser um doador.

O dia foi corrido, o tempo passou voando, mas consegui um tempinho pra entrevistar a Ana Paixão, uma professora universitária, voluntária e doadora; Ela estava imensamente emocionada, pertencia ao grupo de voluntários recém formado que contribuiu para o evento em Belém acontecer. Ela olhava pra fila e chorava dizendo: “Meu Deus, como eu sonhei com este dia, como o nosso Pará precisava disso!” O cansaço e o calor tomava conta de todos, mas a cada situação dessa, as forças se revigoravam e o desejo que dava era de expandir a visita até a meia-noite.

Última hora, fila imensa, cai a chuva e ninguém saia da fila, as pessoas falavam do Greenpeace com paixão. Um botton, um adesivo, fazia a felicidade de quem deposita a confiança nesta organização.

Quatro senhoras chegam, todas com mais de 70 anos e super elegantes, vieram me pedir um favor: gostariam que eu conseguisse a liberação pra elas fazerem a visita mesmo depois da fila ser encerrada, pelo menos para serem as últimas. Falo com o responsável, e não há como negar.. elas contaram que juntas ajudavam as comunidades ribeirinhas a tirarem seus documentos e utilizarem dos programas sociais. Elas contam que em 2000, um dos navios do Greenpeace parou o Rio, fechou a passagem das barcas impedindo que levassem grandes toras de madeira pra serem entregues para os navios internacionais. A polícia apreendeu tudo e doou para a construção de casas para as famílias ribeirinhas.

Foi um fim de semana rico de vivência e experiência. Falei com todo tipo de gente, do mais simples ao doutor, aprendi com todos, e registrei hoje aqui para multiplicar essa experiência e levar um pouquinho a cada um de vocês.

Após ver a união de voluntários correndo para todos os lados, doadores orgulhosos e dispostos a contribuir pra ver este projeto acontecendo, funcionários dedicados e trabalhando com paixão e a população de Belém contemplada com a visita e entendendo a razão de toda essa movimentação, consigo dizer, com propriedade, em nome do Greenpeace, que #SomosPorTodos

Mesmo a distância, “Eu seguro sua mão na  a minha, para que juntos possamos fazer aquilo que eu não posso fazer sozinho. Luz, paz, amor, Greenpeace!”

Eu sou Tiago Batista, trabalho no Relacionamento com Doadores e também defendo os Corais da Amazônia.

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