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A lama de Brumadinho: lição não aprendida

Mal o ano havia começado quando todos fomos surpreendidos, no dia 25 de janeiro, por uma nova tragédia envolvendo uma barragem de rejeitos de minérios da Vale. Desta vez, foi a Barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que se rompeu. Cerca de 13 milhões de metros cúbicos de lama tóxica destruíram e soterraram o que apareceu pela frente: casas, rios, bosques, animais e mais de 250 pessoas. Era mais uma ferida social impossível de cicatrizar, e uma reincidência em crime ambiental, que deixava claro o quanto os governos e a própria empresa não haviam aprendido nada com a tragédia de Mariana (MG).

O Greenpeace Brasil rapidamente organizou um time de resposta rápida para entender e denunciar a dimensão desta nova tragédia, dar voz aos atingidos e cobrar a responsabilidade da empresa e do governo federal na devida reparação dos danos.

  • Um dia após o desastre, enviamos ao local duas equipes para análise e documentação do ocorrido, que se revezaram durante as três primeiras semanas do desastre. Gravamos entrevistas com os atingidos, registramos e denunciamos amplamente junto à mídia local os impactos da lama ao longo do rio Paraopebas, acompanhamos os trabalhos de resgate dos bombeiros e as manifestações de protesto da população.

Em paralelo, nossos voluntários, especialmente de Minas Gerais, se uniram a uma rede de solidariedade para arrecadar e distribuir mantimentos e artigos de primeira necessidade aos atingidos.

Reunimos 72.853 assinaturas no abaixo-assinado Parem a Vale, e enviamos cartas aos Ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia, pedindo a paralisação das operações das 167 barragens da empresa até que fosse possível garantir sua segurança.

Em pressão com outras organizações do terceiro setor, conseguimos a exclusão da Vale do Pacto Global das Nações Unidas, a maior rede de responsabilidade social corporativa do mundo, com mais de nove mil empresas.

Em centenas de entrevistas concedidas à mídia, além de cobrar responsabilidades à Vale, também aproveitamos a oportunidade de alertar e conscientizar a sociedade para as tentativas de enfraquecimento do licenciamento ambiental por parte de lideranças políticas no Congresso Nacional. O cumprimento do licenciamento ambiental é a prevenção de tragédias como a de Brumadinho.

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Quanto vale a palavra da Vale?

Em um vídeo-denúncia criado a partir da comunicação institucional da empresa, denunciamos a hipocrisia da Vale ao pregar “a vida em primeiro lugar”, enquanto negligenciava a segurança dos seus funcionários e da comunidade em torno da barragem.

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© Fernanda Ligabue / Greenpeace

“Foi quando subi o drone que vi aquele carro carregado pela onda de destruição. Com este ângulo visto de cima, quis mostrar o quão impactante era aquele rio de lama. Ela, a lama, toma conta da imagem toda, não tem respiro, não tem para onde ir. Era exatamente essa sensação de horror que Brumadinho vivia naqueles dias e que eu buscava captar e transmitir em imagem” , conta a documentarista Fernanda Ligabue, que há seis anos é colaboradora do Greenpeace Brasil. Sua foto denunciou a tragédia para o mundo, sendo compartilhada até pelo ator Leonardo DiCaprio.
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© Christian Braga / Greenpeace

“Na tristeza que pairava, eu tentei transformar o luto em foto. Os bombeiros são considerados heróis, mas eles também são humanos, sentem, choram, e expor isso através desta bombeira gerou uma repercussão muito positiva" , diz o fotógrafo Christian Braga. A imagem feita para o Greenpeace virou uma reportagem para o Mais Você , programa da Rede Globo.
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