#TodosPelaAmazônia

Fogo criminoso na floresta

Em 2019, vimos a escalada das queimadas na Amazônia, provocadas deliberadamente por fazendeiros e grileiros de terras para ampliar o desmatamento e limpar áreas degradadas previamente. A fumaça dos incêndios chegou a escurecer o céu de São Paulo, e provocou dezenas de internações hospitalares em decorrência de problemas respiratórios. Segundo o INPE, foram registrados 89.178 focos de fogo no bioma – cerca de 30% a mais que em 2018.

Por outro lado, vimos uma reação mundial de indignação e protesto contra essa destruição. O Greenpeace fez parte desse movimento e ajudou a promovê-lo. Ocupamos muitos espaços da mídia nacional e internacional, colocando grande pressão sobre o governo brasileiro na sua responsabilização como o agente capaz de combater os crimes na floresta.

“Fazer grandes imagens dentro de um avião turbulento é difícil. Nesse dia em especial tinha grande quantidade de fogo e fumaça, o que dificultava muito a visão. Tínhamos que achar alguns furos no meio da cortina de fumaça para poder ter um ângulo limpo. Mas fiquei muito contente com a rápida resposta ao fogo, porque em situações de urgência nós temos que reagir rapidamente. Além da foto ser compartilhada pelo ator Leonardo DiCaprio, pude ficar mais dois meses na Amazônia cobrindo a temporada de queimadas para o jornal The New York Times. Foi o trabalho mais importante da minha vida”, diz o fotógrafo Victor Moriyama.
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Flagrantes por terra e pelo ar

Sem poder de polícia para coibir diretamente os criminosos, nos dedicamos a um intenso trabalho de monitoramento e denúncia das queimadas. Entre os dias 23 e 25 de agosto, percorremos 3.600 km nas proximidades da BR-163, em municípios do norte do Estado do Mato Grosso e na porção norte de Rondônia para registrar e entender a dinâmica do fogo nessas regiões específicas.

Na sequência, ampliamos o nosso monitoramento com sobrevoos e imagens de satélite. De 19 a 23 de setembro, realizamos uma série de sobrevoos em áreas protegidas – terras indígenas e unidades de conservação – ao longo do eixo das rodovias BR-230 e BR-163, no Pará, a partir da sinalização dos dados do DETER. Percorremos no total 3.126 milhas que resultaram em 24 horas de registros e validações.

Ferida aberta na mata

Em nosso sobrevoo pela Terra Indígena Munduruku, flagramos o garimpo ilegal que assola o coração da Amazônia. Há muitos anos, as lideranças do povo pedem ajuda das autoridades competentes para impedir o avanço dos garimpeiros, mas pouco tem sido feito e a destruição continua se espalhando e contaminando os rios que são vitais para as comunidades. A equipe de pesquisa do Greenpeace Brasil analisou os alertas de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e mostrou que, em dois anos, a destruição da floresta nessa região aumentou quase seis vezes. Nosso sobrevoo e análise foram notícia no Jornal Nacional do dia 21 de setembro de 2019, com a participação do cacique Arnaldo Kaba, que também denunciou a difícil situação de seu povo. De lá para cá, a situação vem se agravando. A atual proposta do governo federal de liberação das terras indígenas para a exploração econômica vem piorando ainda mais esse cenário de destruição.

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Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank na Amazônia

Em setembro, levamos o casal de atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank para ver as chamas consumindo a Amazônia com seus próprios olhos. Os materiais deste sobrevoo tiveram amplo alcance nas redes sociais.

Conhecimento audiovisual para o povo Munduruku

Em março de 2019, realizamos uma oficina de vídeo a convite do povo Munduruku, no Alto Rio Tapajós, para que eles contassem suas próprias histórias e, assim, fortalecessem a luta pela proteção da floresta e pela garantia de seus direitos. Ao longo de sete dias, 12 jovens indígenas receberam aulas sobre técnicas e recursos audiovisuais. A barreira da língua – poucos eram fluentes em português – não impediu que o grupo conseguisse adquirir os conhecimentos necessários para realizar os vídeos. Os estudantes que melhor compreendiam o português explicavam cada uma das técnicas para seus colegas. Ao final do período, eles desenvolveram um pequeno filme sobre a sua cultura e a relação intrínseca com a floresta, mostrando o processo de realização das cerimônias tradicionais. Uma outra edição desta oficina já havia sido realizada em 2017 com os jovens da aldeia Sawré Muybu, que estão realizando vídeos até hoje.

Mobilização mundial

Em junho, os ativistas do Greenpeace Holanda colocaram a escultura I amazonia (Eu sou Amazônia) na Praça dos Museus, em Amsterdam, em referência ao célebre letreiro I amsterdam que permaneceu instalado naquele local por 14 anos e se tornou um dos lugares mais fotografados da Europa. A proposta foi alertar o mundo sobre a necessidade de valorizar e proteger a maior floresta tropical do planeta, antes que ela seja perdida.

© Marten van Dijl _ Greenpeace

© Marten van Dijl / Greenpeace

Aruanas: a realidade da Amazônia na ficção

A vida real inspirou a arte: o desmatamento, o garimpo ilegal e a violência contra indígenas foram os temas da primeira temporada da série Aruanas, que estreou no Globoplay em outubro de 2019. Produzida pela Maria Farinhas Filmes, a série, que retrata uma ONG ambientalista liderada por mulheres, contou com a consultoria técnica do Greenpeace para o roteiro. Parte do elenco, composto por Tais Araujo, Débora Falabella e Leandra Leal, também recebeu treinamento sobre ativismo e técnicas de resistência pacífica em nosso escritório de São Paulo.

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© Globo / Fábio Rocha

Energia solar é para todos: uma experiência no Bailique (AP)

A Amazônia é alvo de grandes empreendimentos de energia suja, seja a exploração de petróleo e gás, seja a construção de grandes hidrelétricas. Em setembro, no entanto, mostramos que é possível suprir as necessidades energéticas da região de forma descentralizada e limpa. Nossa equipe conduziu um projeto-piloto de instalação de freezers movidos a energia solar em 4 comunidades ribeirinhas no remoto arquipélago do Bailique, no Amapá, onde vivem cerca de 15 mil pessoas. São comunidades extrativistas de açaí e pesqueiras que dependem de gelo para armazenar seus produtos. Levar a energia solar até comunidades isoladas, que têm redes energéticas precárias, é uma forma de democratizar o acesso à eletricidade, garantir um abastecimento regular, incentivar a economia local e disseminar o uso de fontes limpas e renováveis.

O projeto, em parceria com o Instituto IDEAAS, a Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB) e a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), contou com a instalação de 4 módulos de freezers e suas respectivas placas solares, um em cada comunidade, e uma cisterna para captação de água da chuva para a fabricação do gelo. Além disso, membros das comunidades foram capacitados para fazer por conta própria a manutenção e eventuais reparos das placas e dos freezers, e para entender a importância das energias renováveis.